quarta-feira, 4 de março de 2009

A PRIMEIRA IMPRESSÃO NEM SEMPRE É A QUE FICA

Por: Maila-Kaarina Riippa

Musicista, Editora do site www.hardblast e jurada na primeira edição da Miss Sexy & Lust Party.


Sabe quando tudo acontece rápido demais e você simplesmente segue o fluxo?

Pois é, apesar de meus alguns anos de experiência terem me ensinado a controlar a impulsividade ariana (acho que o ascendente em capricórnio ajuda a equilibrar), existem duas coisinhas básicas que me fazem sim agir no impulso sem nenhum medo das conseqüências: a amizade e o rock ´n roll.

Tenho que ser sincera, se tivesse recebido um flyer qualquer de repente não teria nem lido e se o tivesse feito, as palavras-chave swing, dark room, pole dance e vídeos eróticos certamente me manteriam afastada do recinto. No entanto, um dos produtores da festa é um grande amigo já há 15 anos e um dos DJS idem. Mesmo que fosse a maior roubada do planeta , estilo 'Cilada' total, eu estaria lá, pois sabia que pelo menos boa música iria ouvir e prestigiar amigos que merecem é uma regra para mim.

Depois de ler o flyer pensei: “Ok. Estou fadada a passar minha sexta-feira rodeada por pessoas 10 ou 12 anos mais novas que eu, com hormônios a flor da pele descontrolados e ainda vou ter que ficar escutando baixaria na hora do concurso, pois aceitei ser jurada...”

Mas tudo bem, são meus amigos, eu quero dar uma força.

Alguém para ir comigo?

Sim! Ela! A amiga inseparável mais perfeita: ela pensa como eu, concordaria com todos os meus comentários e ainda seria solidária ao meu mal-humor na hora da baixaria. P-E-R-F-E-I-T-A!

Fomos...

Estava chovendo, o calor era dantesco, mas rolou a grana do táxi e quando este virou a Rua do Comércio pude ver os cabeludos bebendo no boteco ao lado da boate antes de entrar (cena clássica da qual praticamente já fui promovida de elenco a cenário). Mas desta vez, não fiquei ali. Eu tinha uma missão a cumprir! Era jurada da Miss Sexy & Lust Party!

Detesto chegar em lugares onde não conheço e não ver de cara rostos conhecidos, dá um friozinho...

Olhei para um lado, para o outro, nada!

Comentei com a minha amiga: “Não conheço ninguém aqui...”

Ela respondeu: “Calma! Nós ainda nem entramos!”

Pára-raio de situações irônicas e inusitadas como sou, logo logo encontrei meu primeiro conhecido: o segurança. Juro! Estudamos no mesmo colégio há milênios atrás e lógico que ele não me reconheceu. Não falei nada, claro, até porque... ele me barrou!!!!!

“Identidade por favor.”

“Aqui está.”

“Sinto muito, mas você não pode entrar com isto. Identidade da Ordem dos Músicos não tem validade.”

Foi o início do que poderia ter sido um Sr. Bafafá porque sim, ela tem fé pública em todo o território nacional, a marca d´água da federação, impressão digital e ainda está escrito bem grande: Este documento tem validade legal de identidade.

Mas não, ele não me ouvia...quando comecei a falar alto, o segundo rosto conhecido da noite veio me salvar: a produtora do evento que com seu modelito sexy e cabelo Channel fofíssimo deu apenas um sorriso e com uma simples frase fez o segurança que estudou comigo me liberar.

Não fiquei chateada, claro! Como poderia ficar sendo barrada por um segurança que sendo ex- colega de escola, não me reconheceu por achar que eu era menor? Isso já havia feito metade da noite valer. Importante também mencionar que mesmo no estresse, não fui maltratada e o cara era muito profissional. Não perdeu a linha, não fez grosseria, não teve ataque de poder como muitas vezes vemos por muito menos em alguns lugares.

Finalmente entramos, eu e minha amiga.

Primeiro andar:

Ao som de We Care a Lot do Faith No More já comecei a me empolgar. Como todo finlandês que se prese, a primeira coisa que fiz foi procurar o bar com os olhos. Ainda não havia reconhecido o território, tinha que demarcar antes...

-Amiga, vamos pegar uma cerv... - ela me interrompeu.

-Maila, estou constrangida, não sei o que fazer. Olha isso?

-Car$%¨&! Que bizarro!

Sim, estava passando um filme de sacanagem no telão e nós, inocentemente nos posicionamos bem em frente a ele, no centro das atenções. Isso me fez prestar atenção aos arredores e a constatar algo que me apavorou...

“Não conheço ninguém aqui! Só tem nós duas de mulher! Têm uns 10 caras no meio da pista olhando fixamente para nós e um filme pornô com duas mulheres contracenando felizes bem acima de nossa cabeças.”

Naquele momento de desespero máximo a racionalidade me levou ao bendito flyer.

UFA!

-Calma amiga, temos que ir para o terceiro andar, aqui é outra parada...

E lá fomos nós...

Antes do terceiro, segundo.

Assim que os degraus se acabam damos de cara com uma cama de casal. Bem ali, posicionada e prontinha. Havia até porta papel-toalha estrategicamente posicionado ao lado da cama e beeeem abastecido. Luz negra, paredes salmão...começamos a andar...pelo corredor, mais uns 3 quartos, todos com camas e com os recipientes de papel toalha. Nenhum com porta.

-Mas onde fica o terceiro andar? Não tem mais escada!

Meninos bondosos apareceram, “podem nos seguir, estamos indo para lá.”

Depois de virar direita, esquerda e de decorar o caminho do labirinto swiguístico, finalmente eles estavam lá: os degraus para o terceiro andar.

Chegamos!

Ramstein na caixa, várias pessoas conhecidas, inclusive os DJS, clima ótimo, totalmente a parte , me senti em casa. Fui tomar minha cerveja e ainda rolou Pantera. Amo!

Depois pude me tocar de como o preconceito nos causa estresses desnecessários e nos torna ridículos por alguns momentos. Mas tudo bem, não sou solitária neste mundo tacanho e graças a Deus e mais ainda a meu companheiro rock´n roll, aprendi a não ter medo nem de enfrentar situações e nem de reconhecer quando dou uma de mané.

Dancei muito, curti muito, não vi nenhuma baixaria, nada que me deixasse constrangida, nenhum sinal de desrespeito, nada!

Dominatrix:

Achei que fosse brincadeira, que o chicote não machucasse e que ela não mordesse. Acho que o menino cabeludo de calça jeans também (risos).

A mulher deu-lhe uma lambada...

Juro que não tive como conter o riso quando vi a cara de 'coitado que não queria dar o braço a torcer'. Aquela chicotada foi real...tudo foi real.

Para mim foi engraçado, afinal não fui eu quem apanhou e quem levou levou porque quis.

2 da manhã: hora do concurso.

Lá fomos nós para o primeiro andar (sim, o mesmo do filme pornô).

O concurso:

Sem querer puxar o saco mas já puxando, Alessandro Rato, meu amigo há 15 anos, um apresentador nato. Sabe o que dizer , sabe animar, sabe chamar a galera.

O palco era pequeno, mas acho que o espírito é este mesmo. Os seguranças estavam todos ali pelo menos 4, havia uma faixa separando o público do palco e um lugar para os jurados se posicionarem. Muito organizado. Por um momento achei que ficaria constrangida por conta das coisas que ouviria, pois se no palco, cantando sem pole dance eu as vezes escuto coisas que me dão vontade de chutar a cara de alguns, imagina o que não aconteceria ali?

Mas faz parte e as meninas sabiam que isso poderia acontecer então, let it be...

Mas não aconteceu.

Ouvi aplausos, um ou outro 'gostosa' aqui ou ali, muitos assobios, gritos, iuhuuuus. Tudo muito saudável.

Nada de baixaria por parte do público que tenha chamado a atenção.

Falando um pouco das concorrentes, todas merecem os parabéns pela coragem, desinibição, por terem mantido tudo dentro de um nível básico, que foi o que certamente fez com que fossem respeitadas pelo público, e por terem feito uma apresentação sensual e descontraída sem apelar para baixaria.

A vencedora, Miss Marilyn Manson, foi a dona da noite sem dúvida. O figurino, a coreografia, as expressões faciais, maquiagem, tudo estava perfeito. Ela entendeu o sentido do que estava fazendo e representando ali. Mereceu ganhar.

Seria injusto eu falar aqui de uma a uma, pois todas têm seu mérito, mas é inegável que depois dela, tudo ficou aquém.

Parabéns.

Streap Tease:

Não assisti, mas sentadinha em meu cantinho pude perceber alguns detalhes e o que mais me chamou a atenção foi a pouca curiosidade da maioria do público.

Depois do concurso a frente do palco esvaziou bastante, as pessoas ficaram dispersas e nem parecia que um streap tease estava acontecendo ali.

Para o telão insistente de filmes pornô os olhares estavam tão discretos que nem pareciam existir. O clima era mesmo rock ´n roll, cerveja com os amigos, bate papo, diversão.

A primeira edição da Miss Sexy & Lust Party mandou ver.

Organização impecável e um clima que proporcionou dança e diversão para quem queria isso, pegação e otras cositas para quem queria aquilo, tudo sem misturas indesejadas de climas, tudo na hora certa e no lugar certo.

Se for sempre assim, se o público mantiver a mesma consciência e se todos continuarem prestigiando, será sem dúvida a melhor festa rock ´n roll do Rio de Janeiro. Mas depende sim, da consciência de cada um em prestigiar e em manter a linha.

Parabéns a todos os organizadores.

Contem comigo na próxima.

Maila-Kaarina Riippa











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